sábado, maio 02, 2020

Sobre comunidade

Observar a minha volta, ouvir horas de diálogos entre as pessoas e não encontrar inspiração em nenhuma palavra mencionada, de estar rodeado de pessoas que fazem do seu orgulho e da sua bandeira coisas que eu entendo como inaceitáveis para um ser humano flutua entre decepcionante e enlouquecedor pra mim e essa é a coisa que mais tem me deixado desconfortável nessa quarentena.

Mas não posso dizer que esse sentimento de onde estou e quem são essas pessoas seja uma novidade pra mim. Pra falar a verdade não teve nenhum momento na minha vida no qual eu não tenha me sentindo uma outsider. E outsider pra quem não sabe é uma forma moderna de dizer a ESTRANHA que não se encaixa em lugar nenhum. Sempre fui a estranha da casa, estranha da escola, estranha do trabalho, estranha da igreja, estranha do show. nunca consegui ser uma garota normal apesar de muitas vezes eu ter realmente me esforçado pra isso e aí que piora porque quanto mais uma pessoa estranha tenta ser normal, mais estranha ela fica e vai virando uma bola de neve social complicada.. E ao longo desse percurso a internet sempre foi uma válvula de escape. Na verdade, os fóruns, os blogs sempre tinham gente estranha, então  acabava sendo meio que normal ser estranho, mas depois até a internet excluiu os estranhos ou então os estranhos mudaram (não sei ao certo) e viraram todos normais, que depois mudaram outra vez e hoje na internet todos alcançaram a perfeição e esse não é o fim porque a realidade vai continuar se transformando para algo que nós não sabemos ainda.


Na verdade não sabemos exatamente porque não podemos prever o futuro, claro, mas estudando um pouco de marketing digital da pra ter uma pista de que o futuro da internet que vai se fundir  totalmente com a nossa realidade e vai se tornar não apenas o futuro da internet, mas o futuro de modo geral, o futuro das pessoas, dos humanos, vai girar em torno de uma coisa chamada “comunidade”. Eu tenho estudado um pouco sobre isso e particularmente acho o conceito lindo e inspirador. Na verdade se depois do movimento selfie, nós chegarmos ao movimento “comunidade” vai ser uma evolução e tanto. A prova de que o mundo andou pra frente. Uma revolução da qual eu realmente quero me engajar e estar integrada a ela.

Mas aí volta justamente praquela questão que eu falei com vocês antes daquele sentimento decepcionante e enlouquecedor de não pertencer... como um outsider vai SOBREVIVER SOCIALMENTE em um futuro digital e real que gira em torno de comunidade? Acaba deixando de ser uma revolução e virando mais do mesmo onde existem grupos e existe a pessoa excluída. Seria pra sempre aquele lema “acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto. E nesses dias tão estraaaanhos fica a poeir..” 

Enfim, se eu nunca pertenci a lugar nenhum não tenho como determinar onde está ou quem é a minha comunidade, mas acho que a diferença entre esse novo movimento de comunidade e aquelas comunidades que sempre existiram é que uma está relacionada ao agrupamento iguais, e a outra vem do transbordo de um indivíduo para o outro.

Acredito que esse novo conceito de comunidade começa com uma coisa que tem tanto dentro de alguém que derrama e preenche alguém que estava precisando daquilo. E essa pessoa que recebeu tem muito de outra coisa que ela também transborda e compartilha. A comunidade do futuro que nós vamos criar não é sobre agrupar características semelhantes, e sim sobre criação de conexões através da sua contribuição.
Enfim ta meio louca essa ideia, mas gostei muito dela e se eu fosse criar um gráfico pra representar (um dos meus talentos corporativos inúteis da vida real é construir gráficos) seria assim: a comunidade antiga é uma caixa fechada e dentro dela as peças são quadradas, os quatro lados retos, em 90 graus, cabendo perfeitamente na caixa. Tem alguém que quer entrar lá, mas não consegue porque tem um formato que não encaixa ou porque não tem mais espaço naquela caixa.

A comunidade do futuro tem formado de rede e não de caixa. E construída com a conexão em rede entre peças com muuuitas faces, formas complexas e maleáveis, que vão se encaixando umas nas outras.

Na comunidade do futuro quebraram as caixas e agora elas são livres, múltiplas e criadas de indivíduo para indivíduo. 

Agora chegamos ao plano de ação:
Um exercício é pra cada indivíduo que você conhecer você tem a missão de encontrar uma forma criativa de se conectar com essa pessoa e contribuir com alguma coisa na vida dessa pessoa. Nesse formato de rede, as diferenças começam a se tornar menos relevantes, e vai ter lugar pra todo mundo inclusive para os outsiders.

3 comentários:

  1. Esse texto é na verdade um monólogo dentro da minha cabeça em tom de vlog. Começa com uma crise existencial e termina com um mini plano de ação revolucionário pra me conectar e criar um ambiente de conexão e comunidade na sociedade

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  2. Oi Ana! Gostei da sua visão de futuro em que as pessoas viveriam de maneira mais solicitas em relação às outras, cada um fazendo, e dando o que tem de melhor ao outro, infelizmente não tenho muita fé que o ser humano possa atingir esse ápice de comportamento, acho que meu pessimismo vem da ideia é pq não dizer das demonstrações que vemos nos dias de hoje, principalmente no nosso país que é onde eu posso observar melhor, do egoísmo, da falta de empatia, isso tudo é de deixar desanimado, tbm sou meio estranha, sempre fui ou sempre me colocaram esse rótulo hahaha, enfim pensar em um mundo melhor com pessoas melhores sempre é bom.

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    1. As coisas estão meio tensas mesmo, mas que bom a gente ainda conseguir se conectar no meio disso e pensar em coisas boas, soluções ou arte, coisas novas... acho que esse tipo de conexão pode nos levar para frente.

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