Camila ficava a cada instante mais impressionada em poder pensar sobre qualquer coisa. Era um mundo sem limites. A ferramenta das revoluções tecnológicas, a solução das questões ambientais, a resposta para todos os problemas da humanidade. Estava tudo ali. No pensar.
Ela estava com um sorriso enorme e tão distraída pensando em flores e bicicleta que nem ouviu as batidas na porta. Era sua mãe que ficou alguns minutos observando a filha sem ser percebida e imaginando se Camila estava finalmente apaixonada por um garoto da escola ou coisa assim. Mas o amor de sua filha naquele instante era o pensar.
Depois de conversar amenidades com a mãe ,que ficou surpresa com a mudança repentina na filha e torcendo para que fosse durável e não apenas um lapso, Camila voltou aos pensamentos de forma mais direta.
Chegou a conclusão de que odiava políticos e a política, acreditava em Deus e achava absolutamente estúpido alguém pensar que as árvores, rios, animais de todas as espécies, cores, formas, cheiros, extinto animal, ela mesma e a capacidade de pensar tenham surgido de poeira cósmica.
“Não pensa, só pode ser!” ela dizia após cada decepção com o ser humano.
Como alguém enterra os mortos na horizontal? Ninguém imagina que daqui um tempo não vai ter mais espaço pra tanto túmulo? E que idiota aquele fazendeiro desmatando tanta floresta, matando tantos animais queimados, impedindo a reposição do oxigênio indispensável pra nossa sobrevivência e de quebra jogando uma porção incontável de carbono na atmosfera pra camada de ozônio ficar mais lascada e o mundo acabar enquanto ele tem um percentual maior de lucro na renda dele.
Se as pessoas não deixam nem de jogar papel de bombom e garrafa de refrigerante no chão sabendo que isso acaba com o planeta, quem se preocuparia com a paz? E com as famílias que morrem de fome? E as famílias que morrem na guerra? E as culturas que ensinam o amor à guerra e valorização da morte? E as culturas que ensinam as crianças que a obtenção de lucro é o mais importante doa a quem doer?
Camila chegou a conclusão de que o ser humano é um idiota, mas aí veio uma questão mais complicada.
O que eu posso fazer para mudar isso?