domingo, setembro 30, 2007

A água

Quatro horas da madrugada. Ela liga pra ele chorando muito.

– Eu quero morrer.
– O que aconteceu?
– Nada... A vida é uma droga!
– Mas o que houve?
– São as coisas como acontecem... Nada funciona na minha vida!
– Foi alguma coisa na tua família?
– Não. Não foi nada... eu me sinto tão mal. Nada funciona. Não tem água pra tomar banho!

Choro

– Pare com isso, minha pequena. Calma.
– É a água... Tudo acaba, tudo passa, se desfaz...
– Fique tranqüila. Amanhã a água volta trazendo tudo que está faltando. Fique bem. Eu te amo. Procure dormir, minha linda.

Silêncio. Ela enxuga as lágrimas.

– Eu não quero deixar de te amar.
– Tu nunca vai precisar fazer isso, eu prometo.
– Eu te amo... muito.

sexta-feira, setembro 28, 2007

Não há

Papel e caneta
O que escrever?

Algo que agite
Que faça sentir

Mas não há

Calmaria
Estou bem

Ausência de ventos
Forma massa de ar

sexta-feira, setembro 21, 2007

Camila


É uma garota estranha, não só aos olhos dos outros como aos dela. Nunca se entendeu consigo mesma. Sempre que tentava, entrava em depressão profunda.
Agora, madura aos 17 anos, nem se importa com o ser.

Tem sua galera, mas é solitária. Todos da turma dela são assim. Só se reúnem aos finais de semana. Bebem e fumam enquanto umas músicas rolam. Depois voltam para suas casas.

Durante a semana, passa as noites no seu quarto ouvindo música e desenhando. Ninguém sabe que ela desenha bem. Nem ela.

Sua família pertence à classe média. Se ela fosse comentar algo sobre isso seria.. “tanto faz”. Não fala palavrões. Não conversa. Não diz nada além do necessário: “tanto faz”.

Na escola, é uma aluna mediana. Está no terceiro ano, mas não pensa nada a respeito disso. Faz o que tem que fazer lá apenas para não ter ninguém no seu pé.

Não chama atenção. Muitos nem a notam. Quem convive com ela, diria apenas que era uma garota estranha. Quem se importa?

Talvez alguém pudesse a descrever como um espectro invisível, que apenas paira no ar, pesado, mas ninguém teria esse trabalho.

Não pensa nada sobre nada. Pelo menos é isso que ela acha que pensa.

Seus gostos, opiniões... Quem vai saber?

Há mais coisas na mente da garota-espectro do que ela mesma pode imaginar.

terça-feira, setembro 18, 2007

De você pra mim

Porque você tem o sorriso mais lindo e fica gracioso até quando você esconde com a mão.

Porque você é viciada em música, e eu tenho até inveja de você viajar assim... tão naturalmente. E por saber que assim é você mesma, eu tenho mais certeza de que eu estou exatamente ao lado da pessoa com quem eu queria estar.

Porque você tem algum distúrbio associado à comida, e fica doida só de pensar em morangos com Leite-moça, ou quando eu te levo pra lanchar na Bob’s, você fica esperando o bigbog, o milk-shake e as batatas fritas que nem uma criança esperando a data do aniversário.

Porque eu me amarro nesse bico que você faz quando fica chateada. E quando eu pergunto se você está bem, ainda balança a cabeça dizendo sim e vira a cara pro outro lado esperando eu abraçar você, que resiste durante alguns minutos, mas logo acaba se entregando.

Porque você fica toda empolgada quando conta uma história, e fica vermelha, fala alto, gesticula de maneira exagerada e eu tenho que ficar te lembrando o tempo todo que eu to bem na tua frente.

Porque você é doida pra usar óculos, que deixariam você com um ar mais sério e eu fico doido quando você faz aquela cara de séria.

Porque você se agarra bem forte em mim, e eu fico com medo de você ficar pensando que eu sou um bichinho de pelúcia ou sei lá o que, mas até deixo só pra observar a carinha boba que você faz.

Porque mesmo se eu fosse cego e privado de ver esse teu jeitinho tão meigo, ou a forma que seus cabelos tomam quando embalados pelo vento, eu me apaixonaria por você no mesmo instante em que ouvisse tua voz.

Porque você tem o mundo todo na sua mão, mas guarda com medo, até o dia em que se sentirá realmente segura para abrir o jogo e dar as ordens. Espero que esse dia chegue, mas você tem que me prometer que não vai se livrar de mim quando estiver por cima.

Porque é lindo ver você com esse discurso ambientalista, defendendo os pássaros, a camada atmosférica, brigando com o velhinho que estava queimando capim no quintal. Só não quando você implica com o meu cigarro.

Porque às vezes me assusto quando olho seus olhos no retrovisor e vejo o quanto você é linda e fico até com receio de te deixar em casa, morrendo de ciúmes, sabendo que todo mundo pode olhar pra você também.

E porque você é minha musa, quero te ter sempre ao meu lado, provocando meu instinto de amor.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Canção ao meu amor

Eu me amo

Escrevo pra mim mesmo
Falo de mim
Me declaro pra mim

Eu me amo

O romântico é um egoísta
O que não é amado se ama
O que é amado se ama também

Eu me amo
Eu me amo
Eu me amo...

sábado, setembro 15, 2007

A Escolha


Cinco e quarenta da manhã, o despertador toca. Eu desligo, esqueço que acordei e volto a dormir.

Às seis horas, minha mãe aparece no quarto e com um tom nada amigável pergunta se eu não vou pra aula. Eu digo: Mãezinha, to com muito sono e além do mais, já estou passada de ano, posso faltar hoje?
Ela permanece com a cara nada amigável, mais desta vez com um olhar mais fixo e diz: Olha... Tu que sabes.

Parece uma resposta normal, mas naquele momento, minha mãe colocou a maior responsabilidade da humanidade nas minhas costas.
Aquela responsável por tudo que já aconteceu e ainda por cima, por tudo o que deixou de acontecer. Aquela que até hoje, todos temem e ninguém sabe justificar. Que intriga os mais sábios e persegue os mais ignorantes. Que alguns, com medo, acabam fugindo pra deixar de ser, mal sabendo que fugindo, o são da mesma forma.
Essa, que monstruosa, me tomou em sua forma mais cruel naquela manhã, surgindo obscura e cobrando a minha parte.

Naquele momento, minha mãe me deu a escolha.

Agora, o peso da escolha estava em minhas mãos. Minha opção seria de responsabilidade minha e de mais ninguém. O que haverá depois disso, será o reflexo da minha decisão.

A formação do meu ser, decepções, mentes sendo influenciadas por mim, atitudes sendo influenciadas pelo simples fato da minha presença. Diálogos, opiniões, raivas, amores e até uma morte, ou duas, três. Acontecimentos em todos os lugares por onde eu passaria durante o dia, atitudes tomadas por pessoas que passariam por mim durante o dia e atitudes tomadas por pessoas que passarão por pessoas que passariam por mim, numa reação em cadeia que não há como parar e não se pode fugir.
Me paralisar, não seria evitar. Pelo contrário, seria uma decisão tão cheia de reflexos quanto qualquer outra.
Tudo depende da minha escolha. Não há como escapar.

A partir de agora, o curso da história está em minhas mãos.

quinta-feira, setembro 13, 2007

Moro num país tropical e corrupto por natureza

Todos nós sabíamos que esse escândalo envolvendo o presidente do senado Renan Calheiros não daria em nada.
Mesmo assim, havia, pelo menos em mim, um resquício de esperança. Talvez pela pressão da mídia, eles tomassem alguma atitude punitiva. Bobagem. Mais uma vez, foi provado que o que reina no nosso país é a impunidade à corrupção política.

Cada voto absolvendo aquele senador corrupto estava contadinho antes mesmo da votação. Um por um, devidamente comprado, negociado, chantageado ou simplesmente oferecido por algum puxa-saco. E da mesma forma foram os votos opostos a ele, uma pena que esses tiveram menos aliados.

Qualquer esperança que haja em relação ao caráter dos nossos governantes, ou é burra ou é muito boba, que no final das contas dá no mesmo.

De modo geral, a política já se transformou num grande amontoado de tranbiques, negociações suspeitas, alianças duvidosas e acordos estranhos com uma pitada de populismo e muita, mas muita cara-de-pau.

Nada disso é coisa extraordinária. É fato comum aí na sua cidade, aqui na minha e em qualquer lugar desse país.

Um ex-deputado, pai de uma amiga minha, pagou alguns mil reais pra Vanessa Grazziotin, Deputada Federal em quem a minha mãe vota em todas as eleições, pra ela simplesmente não subir num palanque defender outro da laia deles. “O que? Foi apenas um empréstimo, não há nada de ilegal nisso!”
Quantos votos absolvendo o Renan não foram conseguidos dessa mesma forma?

Isso é só praxe do que acontece nesse mundo podre que é a nossa democracia. Coisas muito piores se dão nesse país, quase que “legalmente”.

Por mais que a corrupção seja vencida na procuradoria e na polícia federal permitindo uma investigação bem-sucedida e a conclusão dos relatórios de acusação, enquanto os políticos forem julgados por eles mesmos, a impunidade continuará reinando absoluta!

É um ciclo vicioso! Se alguém entra na política honestamente, ou é tirado de lá ou aprende rapidinho a cartilha da desonestidade.

Mas quem pode exigir honestidade de um ser humano que sabe que não vai ser punido, ou seja, que legalmente não faz nada de errado?

Há falhas na aplicação da lei, há falhas nas nossas leis, mas quem vai mudar a constituição? Acredito que nenhum deles terá essa idéia.

Mas pra que esquentar a cabeça? Vamos todos relaxar e gozar!

segunda-feira, setembro 10, 2007

Dia de Setembro

Frio
Ausente, mas existe
Quieto
Calado
Acaba.

sábado, setembro 08, 2007

Quase história sobre alguém

Essa seria uma história sobre alguém que ri e chora ao mesmo tempo sem saber por quê.

Que sente falta de amigos, mas é incapaz de dar esse título a alguém.

Que deseja e até disfarça ser independente, mas não resiste a um carinho na nuca.

Que fala demais e se culpa, porque sabe que os mais inteligentes crescem em silêncio.

Que não consegue interpretar seu imo, e por isso, às vezes é inerte, mas geralmente sai fazendo o que dá na telha.

Que em alguns momentos sofre por não ter a atenção que precisa, mas sabe que isso seria apenas um capricho.

Que prefere acreditar que nunca precisará de um companheiro, mas deseja ardentemente ser amado.

Que acha cafona falar de amor, mas pensa, escreve e ainda por cima chora.

Que de tão sentimental, foge assustado da realidade coberto por uma capa de insensibilidade.

Que em alguns momentos se perde da sua essência e se vê num absoluto vazio, mas sorri na alma quando simplesmente senta na cama comendo morangos e ouvindo música.

E que até poderia contar sua história, mas se deita e dorme.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Viagem

Não preciso nem deitar ou fechar os olhos, quando ela vem, me perco em mim de qualquer jeito.

Me jogo em queda livre num abismo profundo.
Caindo em câmera lenta. Mais parece que estou voando.

Poderia ser um vôo de liberdade, mas ele desconhece conceitos.

Voa sem saber como é.
Vazio. Escuro.

Só importa a profundidade. Que na verdade não importa. Ele apenas vai se distanciando da superfície. Mais e mais...

Caindo. Voando...
Até lugar nenhum

segunda-feira, setembro 03, 2007

Hei mãe, eu tenho uma guitarra elétrica

Um desejo de viver a música de modo mais intenso: tocando.

No meu aniversário de catorze anos, eu perturbei muito minha família até ganhar meu baixo. E ganhei.
Para aprender a tocar baixo, eu entrei na aula de violão, e logo foi necessário que eu tivesse meu próprio violão.
Pedi ao meu pai e ele disse que daria quando me visse tocando uma música. No concerto da escola de música toquei três pra ele, e logo tive meu violão.
Alguns meses depois, quis comprar a guitarra de um amigo. Ele negociou com o papai e a Ibanez chegou às minhas mãos.

Anos se passaram e meu baixo nunca foi tocado de verdade por mim. Da minha guitarra nunca ouvi nem mesmo o som. E o meu violão, onde eu me divertia fingindo tocar músicas, foi pra casa de um amigo e nunca mais voltou.

Meu desejo continua sendo apenas um desejo. Até amanhã, quando começarão minhas aulas de guitarra. Chegou o momento de concretizar sonhos. Com um passo de cada vez.