terça-feira, junho 13, 2006

*Pra que serve a cueca?

por Antônio Prata


Eu tinha uns 5 anos, era Natal e essa é uma das minhas lembranças mais antigas. Não só pela barba descolada do papai(tio) Noel (Zé Eduardo), mas pelo presente que ganhei da minha vó: três cuecas.

Nada demais (minha vó sempre me dava roupas) não fosse por um dado curiosíssimo, bizarro, sobre aquelas cuecas: elas tinham etiquetas. Sim, etiquetas iguais a essas que há atrás das calças de moletom ou das golas das camisetas. Fiquei confuso. Até aquele dia, na minha lógica de 5 anos, a única razão da existência das cuecas na face da terra era proteger as costas do pinçar torturante das etiquetas das calças. Qualquer coisa no mundo, portanto, poderia ter etiqueta, menos as cuecas! Se me aparecessem com um cavalo de etiqueta, numa boa. Um carro, uma banheira, um caqui com etiqueta, beleza. Mas aquela peça de roupa cuja finalidade era justamente neutralizar as etiquetas das calças! Um contra-senso terrível, um ultraje! Boquiaberto, me perguntei: pra que então, caramba, servem as cuecas?!

Fui até a mesa de jantar, decidido a resolver a questão de uma vez por todas: “mãe, olha só, uma cueca com etiqueta!”. “é, Antônio, uma cueca de etiqueta..” Repetiu ela sem entender muito bem. “mas a cueca não é pra etiqueta não pinicar, mãe?” Todos os adultos morreram de rir. “não, Antônio, não é não.” Me disse ela , enquanto todos continuavam rindo. Risos que terminaram subitamente, diante da minha próxima pergunta: “mas se não é pra proteger da etiqueta, pra que serve a cueca?”
Houve um largo e reticente silencio e após alguns segundos, todos começaram a palpitar ao mesmo tempo. “serve pra não prender o pinto no zíper, Antônio”, disse a tia Corália. “É pra proteger”, falou o tio Alfredo. “É para deixar tudo juntinho e não ficar balançando de um lado pro outro”, disse o tio Ernesto.

As respostas não me convenceram, tanto por serem ruins como por haver várias. Isso não! Cada coisa tinha sua explicação e eles não haviam conseguido me dar a da cueca. Prender no Zíper? Mas e quando usamos moleton ou short? Proteger o pinto? Mas quem é que estava querendo atacá-lo? Deixar tudo juntinho? Se o legal era que aquilo balançava, ué?! Saí da sala e fui para um canto, debaixo da escada. Estava perturbado. Naquela noite descobri que aqueles adultos não tinham resposta pra tudo. Mas nem por isso me deixei abalar: fui até a escrivaninha da minha vó, peguei a tesoura e, cuidadosamente, cortei uma a uma as etiquetas das três cuecas.
Aqueles pedacinhos de pano não me pinicaram mais a bunda. Uma coceira muito pior, no entanto, havia se instalado pra sempre dentro de mim: se eles não sabem nem para que servem as cuecas, como confiar no resto?

2 comentários:

  1. hueeuhhuehhuee. putz me passei ó! essa foi uma conclusão bem estranha a se chegar. NÂO PODEMOS CONFIAR EM QUEM SEQUER SABE PRA QUE SERVE UMA CUECA! nossa! =D beijo moça. até

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